"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



domingo, 29 de junho de 2025

Até sempre, Agostinho!

 


Logo que desliguei o telefone, escrevi este texto no Facebook e na mensagem para os BA’s:

Recebi há pouco o telefonema do Zé Vargas com a triste notícia: − O Agostinho faleceu!
Partiu mais um dos melhores de nós, o Agostinho Ramos da Silva.
Olhamos à volta e a formatura está cada vez mais pequena…
Infelizmente, essa é a lei da vida.
Mas para os cadetes dos Cursos Afonso Cerqueira e Baptista de Andrade, o Agostinho continua na formatura.
Até sempre, Agostinho!

De facto, a notícia da partida do Agostinho Ramos da Silva chegou como um murro no estômago — injusta e pesada. Escrevi que “partiu mais um dos melhores de nós”, e é impossível não sentir o peso desta verdade. A cada partida, a nossa formatura vai ficando mais pequena, mas a memória dos que se destacaram pelo seu carácter, entrega e amizade permanece viva entre todos. E o Agostinho, mais do que um amigo ou camarada, foi uma referência humana e profissional. O Agostinho foi um daqueles que marcaram o seu tempo, não apenas pelas funções que desempenhou na Marinha, mas sobretudo pela forma como as exerceu: com inteligência, ponderação, fino sentido de humor e uma humanidade desarmante.

Para os BA's que responderam à minha mensagem, o Agostinho foi também uma referência de camaradagem, de princípios e de dedicação. Todos recordaram a sua generosidade, o compromisso com o que era justo e necessário, a sua entrega às causas comuns e a lealdade para com os amigos. Foi um companheiro de jornada, alguém com quem partilharam esperanças, lutas e sonhos. As memórias que partilharam evocam encontros marcantes: almoços a bordo do “Santa Maria Manuela”, convívios no Instituto Hidrográfico, conversas e reencontros que ficam gravados como momentos de verdadeira amizade. Para muitos, o Agostinho era o amigo de eleição, com quem partilharam aventuras e confidências, como as “caçadas” aos espanhóis no Algarve, e que nunca faltava com uma palavra ou um telefonema, especialmente pelo Natal.

Os comentários à publicação no Facebook, traçam dele um retrato comovente: um homem bom, genuinamente bom, que soube cultivar amizades ao longo de toda a vida — desde os tempos da infância até aos navios e organismos onde serviu, muitas vezes como Comandante, passando naturalmente pela Escola Naval. Foi recordado como um oficial culto que sempre colocou o interesse da Marinha acima de si próprio. Teve o respeito dos seus pares, dos subordinados, dos superiores — e conquistou o carinho daqueles que com ele se cruzaram, mesmo que brevemente.

Lembraram-no como Comandante no Cunene e na António Enes, como Chefe do Departamento Marítimo dos Açores, como companheiro nas lutas comuns e até como amigo para as sardinhadas na Rebelva. Cada memória partilhada carrega a dignidade de uma despedida sincera, e a certeza de que o Agostinho deixa um vazio difícil de preencher. Mas não foram só as palavras de luto. Houve também música — como o “O Mio Babbino Caro”, partilhado em sua honra — e gestos de homenagem silenciosa que dizem tanto como as palavras. A sua companheira de vida, Manuela, foi várias vezes mencionada com ternura, reconhecimento e respeito, tal como o seu irmão Paulo.

A sua cultura, seriedade e perfil inspirador deixaram marca. Era um amigo “seguro”, alguém cuja presença transmitia respeito e confiança. A sua ausência deixa uma sensação de perda de uma referência, de alguém com quem todos gostariam de se ter cruzado mais vezes. A notícia da sua partida foi recebida com consternação e tristeza, mas também com um profundo sentimento de gratidão por tudo o que partilhámos. Mesmo aqueles que, por razões de distância, não poderão estar presentes nas cerimónias fúnebres, fizeram questão de expressar o seu pesar e de sublinhar a importância do Agostinho nas suas vidas.

A vida impõe-nos despedidas difíceis, e esta é, sem dúvida, uma das que mais dói. O Agostinho deixa muitas saudades. Mas a nós, resta agradecer-lhe. Pela amizade, pela camaradagem, pelo exemplo, pelos valores que connosco partilhou.

A formatura está mais pequena, mas o seu lugar não ficará vazio. Está guardado na memória dos que com ele conviveram, na história da Marinha e nos corações de tantos que hoje lhe dizem, comovidos:

Descansa em paz, Camarada. Até sempre!

terça-feira, 15 de novembro de 2022

 


Julgo que terá sido na Churrasqueira do Campo Grande, mas sem grandes certezas.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Alocução ao Corpo de Alunos da Escola Naval

 



Senhor Almirante Comandante da Escola Naval,
Oficiais e Cadetes da Escola Naval,
Camaradas do Curso “Almirante Baptista de Andrade”,

Quiseram as circunstâncias que só hoje, quase dois anos depois da data devida, seja possível celebrarmos os 50 anos do nosso curso na Escola Naval.

Os que em 1970 transpuseram pela primeira vez a porta de entrada da Escola Naval e se juntaram a alguns dos que entraram um ano antes, formaram o curso “Baptista de Andrade”. O BA, ao longo de quatro anos, foi evoluindo com novas entradas e várias saídas, mas manteve sempre o essencial do que influenciou decisivamente o que cada um dos nós é hoje.

Frequentar a Escola Naval, mesmo que por um curto período de tempo como aconteceu com alguns de nós, é um enorme privilégio. Mas frequentar a Escola Naval integrado num curso como o BA foi um privilégio ainda maior e, por isso, independentemente da data em que o fazemos, celebrar os 50 anos do nosso curso, na Escola Naval e sem as restrições impostas pela pandemia, tem um significado especial para todos e cada um de nós.

Por isso o nosso sentido agradecimento a todos os que hoje servem e estudam na Escola Naval por nos propiciarem este momento. Um momento que gostaríamos que seja tão relevante para os cadetes do curso "Chefe de Divisão da Armada Lopes da Costa e Almeida" como foi para nós convivermos com elementos do curso que celebrou o cinquentenário no nosso primeiro ano na Escola Naval. Conhecer oficiais como o almirante Ramos Pereira, um exemplo como oficial da Armada e cidadão, ou o engenheiro Eduardo Scarlatti, um mestre da cultura, foi uma experiência marcante para os cadetes do BA.

Como não podia deixar de ser, o BA foi influenciado pelas condições históricas do País e da Armada nos anos que precederam o 25 de Abril de 1974. E essas condições muito particulares fizeram de nós os militares que fomos e os cidadãos que somos.

Na Escola Naval contrariámos as praxes e todas as formas de abuso. Queixámo-nos de um professor incompetente e requeremos a repetição da cadeira por ter sido mal-ensinada. Contestámos a forma como eram realizados os embarques de instrução. Alterámos práticas tradicionais, propondo alternativas nos órgãos próprios. Quando discordávamos das ordens que recebíamos, cumpríamos e depois apresentávamos queixa formal.

Fomos muitas vezes contestatários e nunca abdicámos de lutar por o que entendíamos ser justo e correcto, mas sempre respeitámos as regras da instituição militar. As iniciativas que tomávamos eram previamente discutidas e respeitavam a vontade da maioria. Éramos solidários apesar da nossa diversidade.

Cada um de nós aprendeu na Escola Naval a valorizar o rigor e a liberdade de pensamento e acção. Aprendemos com oficiais e professores que souberam transmitir os valores e os princípios que devem nortear a profissão de oficial de Marinha. Aprendemos com os Comandantes Silvano Ribeiro, Oliveira Lemos, Freire Montez e o Engenheiro Mesquita Dias, para lembrar alguns dos melhores entre os melhores.

Quando saímos da Escola Naval e nos lançámos no turbilhão da vida, uns mais cedo que outros, seguimos caminhos muito diversos. Mas todos procurámos cumprir o melhor que sabíamos e podíamos, exactamente porque foi isso que nos ensinaram na Escola Naval. Para além das competências técnico-profissionais, ensinaram-nos a ser cidadãos, a fazer escolhas e a respeitar as escolhas dos outros.

Nem sempre fomos compreendidos e alguns foram penalizados por assumirem posições que entendiam coerentes com os valores e princípios aprendidos na Escola Naval. Mas todos, na Marinha e fora dela, fomos respeitados como profissionais e como cidadãos, precisamente por reconhecerem em nós esses valores e esses princípios.

Cadetes da Escola Naval,
Nesta celebração dos 50 anos do curso “Baptista de Andrade”, permitam que expresse um voto singelo: Que a passagem pela Escola Naval seja para vós tão fundamental e enriquecedora como foi para nós.


Viva a Escola Naval!
Viva a Marinha!

Os 50 anos do "BA"

 


O cinquentenário do Curso da Escola Naval “Almirante Baptista de Andrade”, ocorrido em 2020, coincidiu com o pico da pandemia. As condições para um regresso à nossa casa-mãe eram então tão restritivas que decidimos esperar por melhores dias.

Valeu a pena esperarmos quase dois anos para todos os que puderam, viverem um dia inesquecível e cheio de emoções. Como escreveu o Luís Loureiro Nunes, "estamos e continuamos juntos, porque queremos perpetuar os rapazecos que eramos, com a alegria e a ingenuidade que tínhamos e com os sonhos que íamos cultivando e alimentando. O resto foram anos de vida, vitórias e derrotas, sofrimentos e alegrias, sacrifícios e desilusões. Mas foi outra coisa."

Graças ao Comandante da Escola Naval, Contra-almirante Valentim José Pires Antunes Rodrigues, e aos oficiais e cadetes que ali servem e estudam, em particular o Comandante Santos Rocha e os cadetes do curso "Chefe de Divisão da Armada António Lopes da Costa e Almeida", pudemos reviver o que a Marinha tem de melhor.

Todos, sem excepção, tudo fizeram para nos receber com grande dignidade e enorme carinho. As fotos que publicamos não fazem jus ao que vivemos e sentimos, mas são um testemunho da nossa imensa gratidão.

No dia 12 estiveram na Escola Naval, de uma forma ou de outra, todos os “BA”. São eles, por ordem alfabética:
Abel Ivo de Melo e Sousa
Agostinho Ramos da Silva
Amílcar Pinto de Oliveira
António Carlos da Cruz Cordeiro
António de Castro Figueiredo
António Correia de São Marcos
António João Cota Fevereiro
António Júlio Coelho Inok
António Manuel Lopes Antão
António Tomé Robalo Cabral
Armando Santos Silva
Augusto José Brito da Silva
Carlos Costa Fontes (falecido)
Carlos Jorge Guimarães Martins
Carlos Manuel Pereira Taveira Pinto
Carlos Morais Félix
Diniz Sanches da Silva
Eduardo Luís Gonçalves Ventura
Fernando Carlos Barata Lima da Fonseca
Fernando José Lopes Nóbrega de Lima (falecido)
Fernando José Ramalho Prieto Alves
Francisco João d`Almeida Blasques
Francisco Joaquim Vaz Leitão
Francisco Mota Rodrigues (falecido)
Guilherme Marçal Neves Veríssimo
João de Almeida Guerra
João Manuel Pinto Figueira Curado
João Pedro Felícia Moreira
Joaquim Nobre
Jorge Manuel Lopes da Fonseca
Jorge Martins Bettencourt
José Correia Galeão (falecido)
José Fernandes Lomba
José Inácio Baptista Viegas (falecido)
José Joaquim Fernandes
José Laranjeira Anselmo
José Manuel Farinha Vargas
José Manuel Pinto Teixeira
José Soares Rodrigues de Figueiredo
Júlio Manuel Sajara Madeira
Justo Manuel Tavares
Luís Alberto Pessoa da Fonseca e Castro
Luís Alberto Quartin Pereira da Costa
Luís Augusto Loureiro Nunes
Luís Fernando Tavares dos Reis Ágoas
Luís Filipe Borges de Pereira e Cruz
Luís Filipe da Silva Chagas
Luís Manuel Ferreira Gonçalves Pereira (falecido)
Luís Manuel Nunes da Costa Alves
Manuel Belarmino da Silva Lopes
Manuel José da Costa Coelho da Silva
Manuel Luís Longo Alves Diniz
Manuel Maria Peralta de Castro Centeno (falecido)
Manuel Vitorino Nunes Teixeira
Marcos Manuel de Carvalho Pereira
Mário João Maia de Sampaio e Castro
Octávio dos Santos Costa Correia
Orlando da Silva Paulino
Paulo Manuel Monteiro Marques (falecido)
Raúl Bernardo Mourato Ramos Gouveia
Reinaldo da Costa Campos Coelho
Simão Neves de Almeida
Victor Manuel Loureiro Grácio