"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os militares são frouxos?

Porque sou militar, de formação e por convicção, quase sinto vergonha de o dizer. Mas sobrepõe-se-me a honestidade intelectual e o dever de consciênca.
Um dia, há 41 anos atrás, jurei “defender a Pátria e as suas instituições ... no dever do respeito da hierarquia e da obediência aos chefes ... consagrando-me ao cumprimento do dever militar ... ainda que com o sacrifício da própria vida”.
Quando o fiz, aliás como muitos outros, foi no cumprimento de um ritual militar isento de ideologias políticas que não tinha (que muito poucos militares tinham) na altura.
Ao longo da frequência da Escola Naval, e através do contacto com militares da então Reserva Naval, já formados pelas univeridades civis e a cumprirem o serviço militar obrigatório, fui-me apercebendo da realidade do País (que de todo era a minha) e das profundas injustiças sociais que se viviam, quer na então Metrópole, quer no Ultramar, e de que todos estávamos e iríamos ser vítimas a mais ou menos curto prazo.
Depois veio o 25 de Abril (o de 1974, não outro qualquer) e tive a hipótese de escolher um dos lados da barricada que dividia Portugal.
Por convicção, arrisquei e escolhi o lado vencedor (terá sido?) e embarquei na aventura de me juntar àqueles que queriam fazer de Portugal um País melhor, democrático, evoluído, socialmente justo, com todas as condições para um futuro promissor.
Numa altura em que detínhamos o Poder por risco e mérito proprios, entregámo-lo de bandeja a políticos tão aprendizes quanto nós, mas que tinham a enorme vantagem da ambição e da ausência de escrúpulos e de dever patriótico para atingirem os seus fins.
Aos poucos, fomo-nos agachando cobardemente às ideologias interesseiras de políticos oportunistas que nunca pensaram no Povo mas apenas neles próprios, culminando na extinção do Conselho da Revolução. Tudo perante a nossa passividade.
Ingenuidade? Talvez, mas não só! Porque houve oficiais (e conheço alguns) que de "perigosos" revolucionários se conseguiram guindar a posições de topo na hierarquia das FFAA em troca da concessão das suas posições ideológicas de base. E com isto se tornaram tão oportunistas quanto os políticos profissionais.
Actualmente o que temos? Um País de rastos, à beira do colapso económico e, mais grave ainda, da crise social, sem rumo, sem perspectivas e sem esperança.
Passados 37 anos sobre a Revolução dos Cravos, resta aos incautos como eu assistirmos à reversão de valores que levou ao levantamento militar de 25 de Abril de 1974 e olharmos impávidos e serenos para a destruição do País e para o achincalhamento da Instituição Militar. Até quando?
O Povo Português está actualmente a sofrer agressões e assaltos brutais que até no tempo do António das Botas eram menos descarados. Perante os factos só resta uma pergunta: foi para isto que fizemos o 25 de Abril de 1974?
Lamento profundamente ter sido enganado na altura, e penitencio-me aqui por ter contribuído para a actual situação. Pelo facto, e pela minha quota de responsabilidade, peço desculpa a todos os Portugueses que, naquele dia, confiaram nos seus militares.
Mas, com a convicção da justiça e honorabilidade de princípios por que sempre pautei a minha postura pessoal, e agora bastante mais esclarecido politicamente, afirmo solenemente que estou totalmente disponível para reparar, em qualquer altura, os erros do passado, que também ajudei a permitir que se concretizasem.
Assim hajam mais camaradas que se sintam tão enganados e envergonhados quanto eu!

Silva Lopes

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta aberta ao Eng. Macário Correia

Exmo. Senhor engenheiro

Felizmente tenho o privilégio de não o conhecer pesoalmente o que, espero, nunca venha a suceder. Bastou-me ouvi-lo.

Mas deixe que me apresente. Sou, com muito orgulho, um oficial superior das FFAA, na reserva, um dos muitos que V. Exa. deliberada e desbragadamente ofendeu na sua entrevista à Rádio Renascença no passado dia 13 de Setembro.

Estive algo indeciso se deveria baixar-me ao seu nível para lhe dar a resposta adequada. Mas como “quem não se sente não é filho de boa gente”, acabei por decidir-me a dar-lhe essa resposta, que é estritamente pessoal e sem mandato de ninguém.

Desconheço se V. Exa. alguma vez cumpriu serviço militar; mas, pela sua prosódia, decerto desconhece ou ignora os valores porque se pauta a Instituição Militar, infelizmente bem diferentes dos praticados pela generalidade dos agentes da classe política a que V. Exa. pertence. Se não foi à tropa, ter-lhe ia feito bem, pode crer; se foi, andou certamente distraído, ou foi dispensado das aulas de organização e regulamentos para estar presente nalgum qualquer comício ou reunião partidária.

Mas queria ainda lembrar-lhe uma coisa: não foram os militares, mas sim os políticos a cuja classe, repito, V. Exa. pertence, que, com as suas acções ou omissões, levaram o País à situação ruinosa e degradante em que se encontra actualmente, que tem bom exemplo, também, na Câmara falida a que V. Exa. preside.

Nesta perspectiva, era bom que, tal como os militares que V. Exa. referiu e acusou sem especificar, os políticos nada tivessem feito durante alguns anos. Pelo menos não teriam feito tanto estrago!

Quem é V. Exa.? Que excelsa competência julga que possui, para ousar sequer fazer comentários sobre os militares e a Instituição Militar?

Por acaso reparou no número de dirigentes políticos existentes no País (alguns que, se calhar, também não fazem nada) em comparação com o número de generais e oficiais superiores a que se referiu?

Isto já para não mencionar a situação de que, para terem uma reforma de 80% do vencimento completo (por enquanto), os militares obrigam-se a um código de honra e de conduta que têm de cumprir durante 40 anos, enquanto aos políticos basta passarem três mandatos como deputados na A.R, como Presidentes de Câmara ou de um qualquer Governo Regional, ainda que façam asneiras gravosas para o Erário Público, pelas quais não está (convenientemente) previsto serem criminalmente responsabilizados.

Queria ainda lembrar-lhe outra coisa: curiosamente, foram também os militares que permitiram a V. Exa. poder agora proferir publicamente as baboseiras, para educadamente não lhe chamar alarvidades, que vomitou naquela entrevista.

Não tenho qualquer consideração pela política nem pelos seus agentes – aliás cada vez menos – e longe de mim criar polémicas ou pretender fazer comparações entre a idoneidade de militares e de políticos, pois estas são impossíveis de estabelecer considerando a prática de vida de uns e de outros, tomando em conta apenas os últimos 37 anos de democracia.

Mas tenho 40 anos de serviço efectivo; e não posso, em nome dessa mesma democracia, da carreira que devotadamente abracei e do meu estatuto de militar, permitir que um qualquer pacóvio provinciano invoque a sua qualidade de representante do povo, ainda que legitimamente eleito, para passear impunemente, numa emissora de audiência nacional, a sua estúpida e insultuosa verborreia de escroque arrogante e tendencioso.
Até porque foi inútil, porquanto, nesta fase do campeonato, nem sequer lhe capta votos.

Sr. engenheiro, quero finalmente lembrar-lhe que todos os animais têm o seu pasto próprio. Portanto, na minha humilde opinião, deveria limitar-se à pocilga que lhe destinaram e à sua pia de lavagem, deixando o prado para as outras espécies.

E, já agora, para terminar, permita-me uma sincera e humilde confidência pessoal:

PORTUGAL SÓ LÁ VAI COM UMAS ARROCHADAS!

Manuel B. Silva Lopes
CTEN AN (Res)

sábado, 2 de abril de 2011

Portugal está de rastos

Não é apenas economica e financeiramente que o País está destruído.
Muito mais grave ainda é que também o está moralmente.
Fiquei tão perplexo quanto envergonhado, quiçá até incomodado, com a recente decisão tomada POR UNANIMIDADE no Parlamento para que a AR se não reúna para efeitos das comemorações do 25 de Abril sob o pretexto de se encontrar dissolvida.
Mas o que sobretudo mais me irrita é tal decisão ter sido tomada por unanimidade.
Como militar sinto simultaneamente pena, raiva e vergonha de que um movimento que foi levado a cabo com intenções altruistas e patrióticas e com o objectivo único (talvez utópico) de pernitir a criação de um Portugal melhor e mais solidário para com todos os seus concidadãos, tenha descambado na tragi-comédia de que todos somos intérpretes.
Quanto ao pretexto aduzido, a Constituição é clara: o mandato dos deputados (art.º 153) só cessa com a primeira reunião dos seus substitutos (eleitos nas eleições seguintes) e, além disso, a Comissão Permanente, que se mantém sempre em funções, pode “promover a convocação da Assembleia sempre que tal seja necessário” (art.º 179, alínea c). Tal como o Presidente da República (art.º 174) pode convocá-la “extraordinariamente” se assim o entender para “assuntos específicos”.
Portanto, esgotado o pretexto, o que fica claríssimo é a falta de vontade dos intervenientes de recordarem uma data que, para alguns, no mínimo será muito incómoda. Ou talvez também o facto de com a cerimónia oficial terem de perder um diazito do fim de semana prolongado tenha contribuído para o unanimismo da decisão. Será que se isto se passasse no dia 5 de Outubro não se realizariam as comemorações da implantação da República ?
O que também é um facto é que os senhores deputados estão a ser pagos pelos contribuintes para exercerem as funções inerentes aos mandatos para que foram eleitos. E isso inclui também a participação em cerimónias oficiais. A menos que reneguem, mas então digam-no claramente para todos percebermos, a importância histórica do 25 de Abril e daquilo que representou para o País.
Acredito que muitos dos deputados que hoje se sentam no Parlamento nada tenham a ver com a ideologia que presidiu ao 25 de Abril. Mas como foram democraticamente eleitos, temos de os aceitar como tal.
Até aí, tudo bem. Só não aceito que se esqueçam que foi precisamente o 25 de Abril que lhes permitiu sentarem-se onde hoje se sentam e proferirem as bestialidades que amiúde se ouvem na AR.
Portanto, aos senhores deputados de todos os partidos representados na AR, que ajudaram a levar o País à complicadissima situação em que se encontra, apenas se pede um sacrifício, ao estilo de recomendação: apesar da “greve” cumpram os “serviços mínimos” se não querem ficar reduzidos ao epíteto de chulos da nação.
Malaio