Não é apenas economica e financeiramente que o País está destruído.
Muito mais grave ainda é que também o está moralmente.
Fiquei tão perplexo quanto envergonhado, quiçá até incomodado, com a recente decisão tomada POR UNANIMIDADE no Parlamento para que a AR se não reúna para efeitos das comemorações do 25 de Abril sob o pretexto de se encontrar dissolvida.
Mas o que sobretudo mais me irrita é tal decisão ter sido tomada por unanimidade.
Como militar sinto simultaneamente pena, raiva e vergonha de que um movimento que foi levado a cabo com intenções altruistas e patrióticas e com o objectivo único (talvez utópico) de pernitir a criação de um Portugal melhor e mais solidário para com todos os seus concidadãos, tenha descambado na tragi-comédia de que todos somos intérpretes.
Quanto ao pretexto aduzido, a Constituição é clara: o mandato dos deputados (art.º 153) só cessa com a primeira reunião dos seus substitutos (eleitos nas eleições seguintes) e, além disso, a Comissão Permanente, que se mantém sempre em funções, pode “promover a convocação da Assembleia sempre que tal seja necessário” (art.º 179, alínea c). Tal como o Presidente da República (art.º 174) pode convocá-la “extraordinariamente” se assim o entender para “assuntos específicos”.
Portanto, esgotado o pretexto, o que fica claríssimo é a falta de vontade dos intervenientes de recordarem uma data que, para alguns, no mínimo será muito incómoda. Ou talvez também o facto de com a cerimónia oficial terem de perder um diazito do fim de semana prolongado tenha contribuído para o unanimismo da decisão. Será que se isto se passasse no dia 5 de Outubro não se realizariam as comemorações da implantação da República ?
O que também é um facto é que os senhores deputados estão a ser pagos pelos contribuintes para exercerem as funções inerentes aos mandatos para que foram eleitos. E isso inclui também a participação em cerimónias oficiais. A menos que reneguem, mas então digam-no claramente para todos percebermos, a importância histórica do 25 de Abril e daquilo que representou para o País.
Acredito que muitos dos deputados que hoje se sentam no Parlamento nada tenham a ver com a ideologia que presidiu ao 25 de Abril. Mas como foram democraticamente eleitos, temos de os aceitar como tal.
Até aí, tudo bem. Só não aceito que se esqueçam que foi precisamente o 25 de Abril que lhes permitiu sentarem-se onde hoje se sentam e proferirem as bestialidades que amiúde se ouvem na AR.
Portanto, aos senhores deputados de todos os partidos representados na AR, que ajudaram a levar o País à complicadissima situação em que se encontra, apenas se pede um sacrifício, ao estilo de recomendação: apesar da “greve” cumpram os “serviços mínimos” se não querem ficar reduzidos ao epíteto de chulos da nação.
Malaio