"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta aberta ao Eng. Macário Correia

Exmo. Senhor engenheiro

Felizmente tenho o privilégio de não o conhecer pesoalmente o que, espero, nunca venha a suceder. Bastou-me ouvi-lo.

Mas deixe que me apresente. Sou, com muito orgulho, um oficial superior das FFAA, na reserva, um dos muitos que V. Exa. deliberada e desbragadamente ofendeu na sua entrevista à Rádio Renascença no passado dia 13 de Setembro.

Estive algo indeciso se deveria baixar-me ao seu nível para lhe dar a resposta adequada. Mas como “quem não se sente não é filho de boa gente”, acabei por decidir-me a dar-lhe essa resposta, que é estritamente pessoal e sem mandato de ninguém.

Desconheço se V. Exa. alguma vez cumpriu serviço militar; mas, pela sua prosódia, decerto desconhece ou ignora os valores porque se pauta a Instituição Militar, infelizmente bem diferentes dos praticados pela generalidade dos agentes da classe política a que V. Exa. pertence. Se não foi à tropa, ter-lhe ia feito bem, pode crer; se foi, andou certamente distraído, ou foi dispensado das aulas de organização e regulamentos para estar presente nalgum qualquer comício ou reunião partidária.

Mas queria ainda lembrar-lhe uma coisa: não foram os militares, mas sim os políticos a cuja classe, repito, V. Exa. pertence, que, com as suas acções ou omissões, levaram o País à situação ruinosa e degradante em que se encontra actualmente, que tem bom exemplo, também, na Câmara falida a que V. Exa. preside.

Nesta perspectiva, era bom que, tal como os militares que V. Exa. referiu e acusou sem especificar, os políticos nada tivessem feito durante alguns anos. Pelo menos não teriam feito tanto estrago!

Quem é V. Exa.? Que excelsa competência julga que possui, para ousar sequer fazer comentários sobre os militares e a Instituição Militar?

Por acaso reparou no número de dirigentes políticos existentes no País (alguns que, se calhar, também não fazem nada) em comparação com o número de generais e oficiais superiores a que se referiu?

Isto já para não mencionar a situação de que, para terem uma reforma de 80% do vencimento completo (por enquanto), os militares obrigam-se a um código de honra e de conduta que têm de cumprir durante 40 anos, enquanto aos políticos basta passarem três mandatos como deputados na A.R, como Presidentes de Câmara ou de um qualquer Governo Regional, ainda que façam asneiras gravosas para o Erário Público, pelas quais não está (convenientemente) previsto serem criminalmente responsabilizados.

Queria ainda lembrar-lhe outra coisa: curiosamente, foram também os militares que permitiram a V. Exa. poder agora proferir publicamente as baboseiras, para educadamente não lhe chamar alarvidades, que vomitou naquela entrevista.

Não tenho qualquer consideração pela política nem pelos seus agentes – aliás cada vez menos – e longe de mim criar polémicas ou pretender fazer comparações entre a idoneidade de militares e de políticos, pois estas são impossíveis de estabelecer considerando a prática de vida de uns e de outros, tomando em conta apenas os últimos 37 anos de democracia.

Mas tenho 40 anos de serviço efectivo; e não posso, em nome dessa mesma democracia, da carreira que devotadamente abracei e do meu estatuto de militar, permitir que um qualquer pacóvio provinciano invoque a sua qualidade de representante do povo, ainda que legitimamente eleito, para passear impunemente, numa emissora de audiência nacional, a sua estúpida e insultuosa verborreia de escroque arrogante e tendencioso.
Até porque foi inútil, porquanto, nesta fase do campeonato, nem sequer lhe capta votos.

Sr. engenheiro, quero finalmente lembrar-lhe que todos os animais têm o seu pasto próprio. Portanto, na minha humilde opinião, deveria limitar-se à pocilga que lhe destinaram e à sua pia de lavagem, deixando o prado para as outras espécies.

E, já agora, para terminar, permita-me uma sincera e humilde confidência pessoal:

PORTUGAL SÓ LÁ VAI COM UMAS ARROCHADAS!

Manuel B. Silva Lopes
CTEN AN (Res)