"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



domingo, 19 de maio de 2013

Nóbrega de Lima, 18 maio 2013


Boa noite a todos.
Venho por este meio informar que as visitas foram proibidas por ordem médica.
É com uma enorme angústia que vos digo que o meu pai está a mesmo a dar as últimas. E por mais que tentemos mudar o rumo às coisas, encontrar soluções, mudar tratamentos, por mais que ele próprio lute contra isto .... não há nada que resulte!!
Sei que não devia perder a fé, mas como posso ter fé num Deus salvador se esse mesmo Deus está a castigar o meu pai e todos os que o amam? Ele não merecia morrer desta forma. Lenta, dolorosa, sem se conseguir expressar e pior de tudo, com a total consciência de que mais cedo ou mais tarde morre e não conseguiu sequer dizer adeus.
Está exausto... é como se tivesse saído de uma cirurgia e estivesse pedrado, mas em vez de adormecer a meio das conversas por curtos períodos, ele quando adormece fica horas para voltar a acordar.
Ele por mais que uma vez me tenta dizer algo, eu sei que há algo que ele nos últimos dias me tenta dizer, a sós, mas ainda não arranjou forças.. e cada vez tem menos...
É tão frustrante vê-lo a morrer diante de mim, com a consciência e a tristeza de se tentar mover, falar, escrever etc, e não conseguir. Com a angústia de ninguém compreender o que ele tenta dizer, e por já não conseguir fazer coisas simples como mudar de canal na TV... as mãos tremem, ele não tem sensibilidade ou força, deixa cair tudo.. tenta levantar-se sozinho para provar que não é nenhum incapaz... mas não consegue levantar um único centímetro de corpo. Dá pedidos de raiva e de imensa dor.
Das últimas vezes que ele se conseguiu fazer ouvir, foi na chegada do senhor almirante Talvares de Almeida, em que ele disse todo animado (em esforço e na medida do possível) "bom dia senhor almirante" e fez uma continência em enorme esforço.
Ainda há minutos ele olhou para mim, com um olhar muito terno e meigo, até deixar cair uma lágrima e olhar para mim com o olhar mais infeliz deste mundo como se me implorasse para que eu o libertasse de tanta dor. sem conseguir dizer uma única palavra. Por mais que tente na maioria das vezes nem um pequeno som ele consegue fazer...
Envio em anexo 2 coisas que ele escreveu ontem.. se algum de vós as conseguir traduzir agradecia imenso.
Ps: Sei que têm partilhado os emails, agradecia que partilhassem  também este para os amigos mais chegados e para os do curso BA.
Obrigado.
Frederica Nóbrega de Lima