"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



terça-feira, 12 de outubro de 2010

A nossa culpa

Dizem que somos todos culpados pela situação de Portugal.
É verdade, somos todos culpados quanto mais não seja por tolerarmos os actuais dirigentes financeiros e políticos, estejam eles em Lisboa, em Bruxelas, em Frankfurt, em Washington ou em Nova Iorque.
A ilusão de um sistema económico dominado por mecanismos de reforço exclusivamente baseados nos resultados financeiros e onde os processos reguladores e de equilíbrio foram anulados, só podia ter este resultado. Foram criadas condições ideais para dirigentes cuja ideologia é a mentira e a prática o tráfico de influências tomarem o poder e levarem os Estados mais frágeis e as respectivas estruturas e empresas, públicas e privadas, ao charco. É ver por exemplo a substituição das estruturas produtivas nacionais por empresas de serviços internacionais, o investimento público em projectos financeiramente desastrosos com parcerias público-privadas ou a forma como a União Europeia e os governos usam os mecanismos de concentração nos programas-quadro, nos concursos públicos e nos ajustes directos para eliminar a concorrência e reforçar os designados campeões, criando oligarquias público-privadas que funcionam como governos de poucos em benefício próprio.
Mas estas oligarquias público-privadas só podiam sobreviver em democracia se a maioria do eleitorado se mantivesse satisfeita ou amorfa. Para isso deram-lhe emprego pouco exigente e de muito baixa produtividade, crédito fácil e abundante, produtos de consumo e sobretudo informação apresentada como base do pensamento. Como a mente humana pensa com ideias e não com informações (as informações não criam ideias, as ideias criam informações) era inevitável o empobrecimento espiritual e a perda da diversidade cultural, eufemisticamente chamados de fim das ideologias
Parece que a farra das duas últimas décadas chegou ao fim e os mesmos de sempre vão ter de pagar a conta. Os poucos ricos vão continuar ainda mais ricos e os muitos pobres vão ficar ainda mais pobres. E desengane-se quem pensar que uma mudança de governo resolve o problema. Se os padrões de pensamento e comportamento que produziram os actuais dirigentes se mantiverem intactos, não tenho dúvida que mais cedo do que tarde produzirão nova fornada com outra roupagem mas com o mesmo resultado funesto para a sociedade.
O futuro dos meus netos preocupa-me muito e é necessário e urgente alterar aqueles padrões. Para isso estou disponível para trabalhar e criar sinergias com quem tenha as mesmas preocupações e privilegie a verdade, a inteligência, o rigor e a seriedade de processos.

3 comentários:

  1. " Para que o mal triunfe, basta o silêncio dos bons... "

    Claro que somos culpados; e com esse sentimento de culpa teremos de continuar a viver se não reagirmos em vez de nos alhearmos e continuarmos impavidamente a assistir à bagunçada e a viabilizar soluções governativas medíocres que nos levaram até esta triste situação.

    Como alguém muito sábio disse um dia:

    "Os políticos são como as fraldas: devem ser mudados frequentemente e pelas mesmas razões"

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  2. Camarada e amigo Jorge

    Parabens pelo teu post.

    Se me permites, dir-te-ei que, concordando e subscrevendo o que disseste,não tendo isso nada a ver com esquerda ou direita ( conceitos cada vez mais subjectivos, no contexto em que vivemos), a verdade é que, de facto, estou convencido (talvez enganado), de que estamos a viver uma mudança de cenário ou de paradigma. aquilo que tanto se apregoa que não pode acontecer, está a acontecer: o poder económico sobrepõe-se ao poder político. Estamos a assistir a uma mudança nos conceitos de soberania. Acho mesmo que estamos a viver uma mudança de soberania ou ao fim dela, conforme a conheciamos. Só assim se entende, por exemplo, que a "opinião" dessa coisa chamada "agencias de rating" possa ser tão decisiva e definitiva para TODOS os paises. Mais do que combater esta nova realidade, parece-me (talvez mal)que a deveremos tentar entender, sabendo que, provavelmente, os nossos filhos e netos, acharão tudo isto, normal.

    forte abraço

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  3. Hoje o futuro preocupa toda a gente, perante a evidência do descalabro financeiro que passou a afectar o bolso de (quase) todos nós. As minhas fortes e convictas preocupações iniciaram-se em 2005, o que me levou, com antecedência, a dissolver as minhas microempresas, por sentir que não tinha dimensão e capacidade para sobreviver ao futuro que adivinhava e que é hoje o nosso presente.
    Concordo que a ameaça é global e que a nível nacional não basta mudar de governo, mas temi sempre o pior ao ser eleito (e reeleito) para 1.º Ministro um indivíduo com o perfil de José Sócrates.
    Não é possível mobilizar os cidadãos quando a sociedade é materialmente desequilibrada:
    O vencimento mensal do Administrador do Banco de Portugal, sendo o maior pago pelo Estado, ronda os € 17.800,00, o que é um verdadeiro escândalo, quando o menor é inferior a € 500,00; estamos perante uma relação de 1 para 37. Qualquer país civilizado, respeitador dos direitos humanos e com justa distribuição da riqueza, mantém, no máximo, uma relação de 1 para 20. Sendo Portugal um país pobre, com baixo PIB relativamente a outros países da UE, onde o ordenado mínimo ainda não atingiu os € 500,00, se fosse um tal país respeitador dos direitos humanos e com justa distribuição da riqueza, o vencimento mensal máximo rondaria os € 9.600,00, o que, convenhamos, é um generoso vencimento que permite levar uma vida bastante desafogada. Num país respeitador dos direitos humanos e com justa distribuição da riqueza, não é suposto o cidadão acumular fortuna trabalhando por conta de outrem e, muito menos, quando o patrão é o Estado, sendo os seus servidores pagos pelo erário público, para o qual todos os cidadãos contribuem através dos impostos. Quem não entende tal lógica só poderá ser imbecil ou malfeitor, donde se deduz que os governantes que escolhemos ou são uma coisa ou outra, para nossa infelicidade colectiva.
    Ainda na passada 2.ª feira, ouvimos o Dr. Jorge Sampaio insurgir-se contra as reformas milionárias obtidas com reduzido tempo de contribuições, salvaguardando, no entanto, os "direitos adquiridos" (RTP 1 - Prós e Contras). Será que, filosoficamente, se poderá classificar como "direito adquirido" algo de tão aberrante injustiça e oportunismo, embora tivesse sido consignado em lei (elaborada pelos próprios beneficiários), numa altura em que são penalizados vencimentos mensais de pouco mais de € 500,00?
    Como é que no quadro constitucional se repõe o equilíbrio?
    Contem comigo, mas ...... qual o caminho a seguir?

    Pereira da Costa

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